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quarta-feira, setembro 29, 2010

De quem é a missão?

Há um aspecto que, conquanto muito importante, nem sempre tem sido devidamente considerado pela igreja. A questão é: a quem pertence a missão?

A resposta mais comum é a que diz ser a igreja proprietária da missão. Daí falar-se tanto em “missão da igreja”. No entanto, um cuidadoso exame da questão à luz de fontes criteriosas e equilibradas de teologia de missão mostra que a missão não é da igreja. A missão é de Deus. Vem de Deus. Missiólogos usam a expressão latina missio Dei para referir-se à missão, que tem origem no Deus Triúno.

O resgate do conceito bíblico-teológico da missio Dei é de importância transcendental para a igreja contemporânea. A perda desta noção traz graves prejuízos para a vida da igreja. Quando a igreja se julga a senhora da missão, acontece uma mudança desastrosa: ela deixa de se preocupar com sua organicidade (ser corpo de Cristo) e concentra-se em ser uma estrutura pesada e burocrática, voltada para si mesma, não raro dominada por política eclesiástica nociva. Quando a igreja se imagina dona da missão, seus líderes não se preocupam em servir, mas em brigar por espaço, poder, influência e dinheiro na denominação. Na verdade, em vez de ser senhora da missão, a igreja é serva; e como serva deve viver. Quantas vezes, pela ausência desta visão, líderes denominacionais preocupam-se mais com a sua própria glória do que com a glória do Deus senhor da missão!

Não é difícil imaginar quantas e quão radicais mudanças podem acontecer na vida do corpo de Cristo desde que haja plena compreensão de que a missão é de Deus e a igreja é serva desta missão. Um único exemplo: quanto do orçamento de uma igreja, seja em nível “micro” (uma comunidade local), seja em nível “macro” (uma denominação), é destinado à manutenção de uma “máquina” eclesiástica? E quanto desse orçamento é efetivamente destinado ao cumprimento da missão integral da igreja no mundo? Muito provavelmente gasta-se mais com a manutenção do culto e com o marketing da própria igreja e seus líderes do que com a missão propriamente dita. Tal não acontecerá se a igreja compreender-se serva da missão de Deus no mundo.

Esta triste situação pode (e precisa!) mudar. Basta que as igrejas e seus líderes entendam algo muito simples, mas com implicações tremendas: a missão pertence a Deus. Nas palavras de Timóteo Carriker, “a missão, antes de ser da igreja, é missio Dei. Esta perspectiva nos guarda contra toda atitude de auto-suficiência e independência na tarefa missionária. Se a missão é de Deus, então é dele que a igreja deve depender na sua participação na tarefa. Isso implica uma profunda atitude de humildade e de oração para a capacitação missionária, uma dependência confiante em Deus...”

Tal perspectiva da dinâmica da missão nos guarda, por uma lado, contra uma identificação completa dos programas missionários das denominações e agências missionárias com o propósito e missão global e integral de Deus. O povo de Deus reflete, apenas parcial e imperfeitamente a missio Dei.

Não há dúvida de que ser instrumento nas mãos de Deus para o cumprimento da missão integral no mundo é um imenso privilégio. A compreensão de que a missão é de Deus é necessária para que a igreja recupere sua humildade. Além de ser um privilégio, é uma honra para a igreja ser serva desta missão. Afinal, o modelo maior da igreja é aquele que “não veio para ser servido, mas para servir”. E o servo não é maior que seu senhor...

Carlos Caldas é doutor em ciências da religião e diretor acadêmico do Centro Evangélico de Missões, em Viçosa, MG. (Texto extraído do site www.ultimato.com.br)

sexta-feira, setembro 10, 2010

Líderes nas mãos de Deus

Deus escreve a história da redenção no mundo a partir de pessoas que ele mesmo escolhe para essa missão. Convencionou-se chamar a essas pessoas de líderes. Com isso, confere-se a essas pessoas um status equivalente aos líderes que há no mundo. Por isso, há tantas conferências, palestras e principalmente artigos e livros discutindo e refletindo sobre os lideres evangélicos. Temos de tudo, desde os livros mais elaborados e os chamados “best-sellers” que vêm dos Estados Unidos até os livros escritos por aqui mesmo, mas que no fundo são clones dos livros americanos. São todos mais ou menos previsíveis.
Dar a essas pessoas os nomes de líderes pode confundi-las e atrapalhar ainda mais o movimento evangélico brasileiro. Elas podem pensar que são realmente pessoas importantes e pior ainda é quando elas pensam que são mais importantes do que as pessoas que não são chamadas de líderes.
O que se faz necessário hoje é uma teologia do povo de Deus. Os católicos, por incrível que possa parecer, estão mais adiantados nesse tema do que os evangélicos. Os poucos livros sobre o papel do povo de Deus na missão ou no desenvolvimento da igreja são escritos por autores católicos. Precisamos de uma teologia que comece com a missio Dei, ou seja, a missão é de Deus. Não é nossa, não é da igreja, não é da denominação e principalmente não é do suposto líder. A missão é de Deus, começa com Deus e termina em Deus. Dele é a direção e dele é a gloria de tudo o que é feito. Qualquer resultado da missão deve ser colocado aos pés da cruz de Cristo.
Essa teologia tem como ponto de partida a missio Dei e tem como instrumento de realização todo o povo de Deus. O povo todo é convidado a fazer parte da missão. O povo todo recebe dons, talentos e habilidades concedidas por Deus (não por um treinamento de final de semana). Desgraçadamente convencionou-nos que alguns são mais inteligentes e mais capazes e esses se reúnem e decidem por todo o povo. Infelizmente esses mais “sabidos” (algumas vezes até bem intencionados) não respeitam seus limites e decidem o que eles bem entendem e passam para o povo como sendo a vontade de Deus (esse negócio de dizer que é da vontade de Deus é uma praga mundial). O povo que tem medo de Deus aceita ou finge que aceita. Os líderes fingem que o povo aceitou e tudo termina em pizza.
Se o ponto de partida de Deus é a missio Dei e o instrumento é a participação de todo o povo, a atitude de todos deve ser modelada no serviço. Não existe melhor e mais impactante modelo de serviço do que aquele oferecido por Jesus Cristo quando aqui desenvolveu o seu ministério. Ele veio como um humilde menino que cresceu numa família simples de trabalhadores braçais, nunca teve muitos recursos, mas tinha de sobra uma grande disposição de fazer a vontade de Deus, pois somente quem é servo tem a inclinação para fazer a vontade de outra pessoa. Tinha ainda uma grande compaixão para com os seus compatriotas, especialmente os que sofriam eram injustiçados ou oprimidos pelos líderes religiosos e políticos daquela época. Nunca chamou-se a si mesmo de líder, mas tinha muitos seguidores. Nunca liderou nenhuma organização famosa, mas promoveu a maior de todas as revoluções que o mundo jamais conheceu.

Quando você pensar que é um líder, cheque as suas motivações. Coloque no prumo divino as suas intenções e veja se a sua liderança é para a missão, através do serviço e para a glória de Deus.

Antônio Carlos Barro - presidente e fundador da Faculdade Teológica Sul Americana em Londrina no Paraná.

Embora este texto seja mais direcionado para os líderes em geral, creio que seja um bom texto para analisarmos em virtude da nova liderança jovem que se levanta em nossa igreja. Sucesso a nova equipe da mocidade filadelfiana e aos anteriores que continuem sendo batalhadores fiéis, pois no Senhor o vosso trabalho não é vão.