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quinta-feira, abril 01, 2010

Confessionário



Não sei se posso dizer esses coisas por aqui.
Acho que eu já disse algumas coisas que não deveria. Culpa do Sal que assinou minha carta de alforria quando entregou em minhas mãos a chave mestra do blog.
Lembro-me bem quando ele disse: crescei e multiplicai seus pensamentos sobre os vastos campos do sal na geral.
Talvez não tenha sido bem com essas palavras.
O perigo de postar um texto na internet é que quando isso acontece você não tem mais domínio sobre ele. Cada texto que flui pela net é terra de ninguém. A verdade é que cada leitor lê, interpreta e entende como lhe convêm, independente de qual tenha sido a intenção de seu escritor.
Dramas à parte, o que eu quero dizer é que não gosto de culto de oração. O motivo desse fato ainda ser verdadeiro em minha vida é bem simples: não gosto de orar, pelo menos não no sentido formal como a palavra oração é colocada hoje.
Também não gosto desse título: Oração
Sinto-me mais a vontade pensando que vou trocar uma idéia com Deus.
Já que confessei deixe-me apresentar, ou pelo menos tentar, apresentar uma defesa.
Acho que não gosto mesmo é da ambientação do culto de oração. Sabe aquela coisa de banho tomado, cabeça baixa, olhos fechados, concentração, conforto, pecados maquiados, palavras bonitas etc.
Geralmente quando sinto vontade de orar (o que acontece em alguns poucos momentos) não dá pra pensar, concentrar, fechar os olhos, etc. A sensação não é nada confortável, me sinto na linha de frente de uma batalha onde existe uma rajada de pecados vinda na minha direção e quase que por reflexo ou instinto tento passar informações importantes e desesperadoras sobre o que preciso e qual a real situação para meu companheiro Jesus Cristo que sempre está ao meu lado com um radia amador, apelidado de Espírito Santo, passando todas as coordenadas para o Coronel maior Deus e Pai.
Quando sou atingido por um tiro do inimigo a estratégia vindo do comando maior geralmente é recuar para cuidar dos ferimentos.
Acho que quando estou no culto de oração me sinto em um palácio blindado cercado de anjos da guarda pro todos os lados.
Também acho que toda essa metáfora é na verdade uma grande desculpa.
O fato é que estou tão envolvido com esse mundo que não sinto tanta necessidade de me envolver com o mundo espiritual.
Existem boas desculpas para se dar para não ir a um culto de oração (já usei varias delas, ainda tenho algumas guardadas, se precisar fale comigo). Modéstia a parte, minha imaginação para esse tipo de assunto muitas vezes me surpreende.
Uma boa estratégia para se usar nesses momentos é o que eu conceituei de meias verdades ou tática da mulher meio grávida. Eu sei que na pratica isso não existe, mas no mundo das idéias tudo é possível.
A estratégia é bem simples, basta você apresentar apenas uma parte dos fatos, a parte que for verdadeira de preferência.
Por exemplo: algumas vezes digo, com uma voz de fariseu confesso, perceptível somente por mim mesmo e por Deus, que não posso ir ao culto porque preciso estudar (essa é a minha preferida).
Como é de costume usar essa desculpa na maioria das vezes, quando ela se repete procuro produzi-la com algumas variações lingüísticas, que é para não perder o aroma de sua veracidade.
Não que a desculpa não seja verdadeira, geralmente de fato tenho que estudar, o que nem sempre se torna realidade, mas é que para a estratégia funcionar tenho que omitir alguns detalhes. Geralmente camuflo os detalhes que me condenariam a forca sem que eu pudesse pelo menos apreciar os direitos constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Por exemplo, não esclareço que fiquei a tarde toda dormindo ou assistindo “todo mundo odeia o Cris”.
Essa desculpa ainda me deixa com um bônus adicional de ser reconhecido no ceio da igreja como um jovem estudioso e promissor.
Existem dois problemas com as desculpas para não se ir ao culto de oração:
O primeiro é que uma desculpa pode ser muito boa, mas sua maior fraqueza é que ela continua sendo uma desculpa. Não importa quão boa ela seja, quem nasce desculpa morre desculpa.
Nesta situação sou calvinista de cinco pontos, acredito que todas as desculpas estão predestinadas a falharem em algum ponto da historia.
As pessoas podem ate acreditar, o que quase sempre acontece, mas comigo não cola. Logo sei que se trata de uma desculpa. Não dá pra me enganar, não dá pra fingir que não sei, não dá para transformá-la em uma verdade por inteira (1/2verdade + 1/2verdade ≠ 1verdade – força do habito). Tenho que conviver com esse pecado sempre que dou uma boa desculpa como essa.

(pausa para oração do pastor – ironicamente estou escrevendo esse texto no meio de um culto de oração).

O segundo problema com as desculpas para não ir ao culto de oração não tem relação direta com a desculpa em si, mas sim com o conceito cientifico de causa e efeito.
A causa de não querer ir ao culto de oração – não gostar de orar – não deveria acontecer na vida de um cristão confesso.
Mas é que há algum tempo fiz uma escolha de viver perigosamente, por isso tenho sempre o habito de não mentir para mim mesmo. E quando isso acontece, sou o primeiro a me denunciar a mim mesmo minha mentira (desculpe os professores e admiradores da língua portuguesa)
O fato é que nunca dá certo. Não posso dizer para mim que sou loucamente apaixonado por vigílias ou momentos de oração. Essa mentira iria durar poucos segundos até eu descobrir a verdade e me incriminar. Desculpe a redundância, mas é que geralmente sou réu confesso de mim mesmo.
Não que odeie tirar um tempo para orar, é que não sinto tanto desejo de orar como deveria.
Como efeito dessa lamentável situação, tenho perdido varias oportunidades de me relacionar com Deus. Sinto que Ele tem muitas coisas a me propor, mas geralmente nossas conversas não estão incluídas na minha agenda diária. Como ele é o rei do universo quem sai perdendo sou eu.
Quando se perde as oportunidades de relacionar-se com Deus não se entende a necessidade e o privilegio que está em jogo.
Acho que confessar isso a meia dúzia das pessoas que tiveram a santa paciência de chegarem até o final dessa confissão já é o começo de uma solução.
Quero deixar claro que o problema que me incomoda não é orar muito, eu poderia com pouco esforço orar 10 vezes mais, mas o que me incomoda tanto é a falta de desejo de orar mais e a falsa ilusão, mesmo que de forma inconsciente, de que não estou perdendo muita coisa.
Termino essa confissão com uma observação importante e oportuna:
Se eu disse que vou orar por você, desconfie, pode não ser verdade. Mas se você puder orar por mim vou ser muito grato.

"A única razão pela qual não temos avivamento é porque estamos dispostos a viver sem ele!"
Leonard Ravenhil


2 comentários:

leo disse...

cade a foto que tava aqui?

leo disse...

sabe, depois de ler tudo que o Diogo falou, queria saber se Jesus suou sangue gostando ou não do momento? Se desistiram de orar em atos 1 porque realmente orar era bom? Na verdade o Diogo se fez carne diante do que estava escrito nesses textos. Vai entender neh?! Eu até gosto de orar, as vezes.