Seguidores

segunda-feira, dezembro 28, 2009

A SAGA DE UM ADOLESCENTE ONLINE - nº 2

* Nosso adolescente deixou o último domingo sob pressão da conversa com a mãe e se deparou com outro grande  conflito, O carro amarelo banana.



Uma noite meu pai me convidou para acompanhá-lo em uma volta pela cidade. Não havia nenhuma razão em particular, apenas um passeio inocente pela cidade. Foi uma conspiração! Eu devia ter pressentido no ar, mas estava muito distraído para perceber. Entramos em nosso carro amarelo cor de banana (uma linda lembrança dos meus tempos de criança) e nos dirigimos para a rua para um... estacionamento! Meu pai sabia o ambiente perfeito para fazer com que seu filho se sentisse confortável. Com a justificativa de conversar sobre estratégias de futebol (meu pai era o meu técnico, e nós teríamos um jogo na manhã seguinte), ele começou a falar:

- Então. hum. Eric... ah. acho que você poderia me ajudar a planejar a posição do time para o jogo de amanhã contra os Blazers. o que acha? Ele perguntou com um constrangimento que encheu todo o nosso carro amarelo cor de banana.

Concordei, e papai prosseguiu - procurando por uma folha de papel que tirava de sua maleta. Eu podia sentir que uma granada estava para explodir.

- Bom. porque não colocamos o Luck aqui. à direita, e talvez o Johnny no meio do campo, à esquerda e...uh... Ele parou.

De repente, o silêncio pairou no carro como o vento gelado de inverno atravessa a camiseta. Passados alguns segundos, com a coragem de um novilho que sabe que está indo para o matadouro, ele continuou:
 - Éééééé que. bem... ele murmurou.

- Hã! hã!... pigarreou e continuou, falando nisso. Eric. tem uma coisa que quero falar com você.

A granada havia sido lançada, e eu era o alvo.

Nunca me esquecerei daquela noite no estacionamento. Passei, praticamente, toda a noite fitando o chão do carro amarelo cor de banana, com as bochechas enrubescidas e com os ouvidos transbordando com aquela palavra. Naquela monotonia, a única coisa que eu disse durante toda a noite foi "u-hum". Era como se fossem dois terríveis pesadelos em um só: beijar o meu irmão na boca e ir para a escola sem roupa. Mas se para mim era difícil, imagine para o meu pai. pois ele foi a pessoa que. de fato. falou aquela palavra!

Se eu pudesse, nunca mais pensaria naquela palavra, ou a ouviria, ou a pronunciaria novamente. Mas acontece que um crime imperdoável ocorreu em nossa sociedade, e o culpado precisa ser claramente identificado. É isso mesmo - aquela palavra é a suspeita principal. Essa não é uma acusação trivial. Esse foi um crime capital merecedor de uma punição que "coloque todos os pingos nos is" até que haja o cumprimento total da lei.

Existe alguma coisa em nossa sociedade que tem torturado as mentes dos jovens, atormentando-os com insegurança e amea­çando-os com constrangimento. Este indivíduo, digno de condena­ção, é conhecido por desorientar gerações inteiras de jovens da verdadeira beleza de se tornar um adulto, jogando-os em um dile­ma causado pelas palavras engraçadas e por falsas interpretações. Eu experimentei, por conta própria, lidar dignamente com esse indivíduo e fazer justiça sem delongas. Neste momento, quero apresentar-lhes os maiores suspeitos, um dos quais é aquela pa­lavra:
1) alcachofras
2) hora de dormir
3) lição de casa
4) fígado com cebolas
5) e... é... pu... pubahh...puberdade!


Agora, é óbvio para todos que cada uma dessas coisas é uma tremenda ameaça para os jovens, mas existe uma que sobrepuja as demais. Uma palavra que faz com que as outras sejam "fichi­nha'". É! Você está absolutamente certo! É aquela palavra. É aquela palavra que faz nascer espinhas na sua cara. mas que não lhe explica como se livrar delas. É aquela palavra que o transfor­ma de um menininho bonitinho em um quatro olhos desengonçado e otário com cabelo seboso, sem, ao menos, ter a polidez de enviar um cartão de "melhore logo". Aquela palavra é a única responsá­vel por nos confundir a cabeça com todas essas palavras engraça­das.

Eu me lembro de olhar para o fundo da classe e ver Cindy McFarlane (este não é o seu nome verdadeiro). "O que é aquilo?" Minha mente questionou em agitação. Uma outra parte de mim res­pondeu sarcasticamente: "Aquilo é uma garota, esperto!" Eu sa­bia que Cindy era uma garota, mas tinha certeza de que alguma coisa havia mudado. Até então, eu estava condicionado a reagir com um "credo!" Mas. subitamente, o "credo!" não coincidia com os sentimentos em meu interior. Talvez um "uaaauuu ". mas nunca um "credo!"


Eu estava mudando. Meu rosto estava ficando cabeludo como uma casca de pêssego. Minha voz estava falhando. Coisas estranhas estavam acontecendo comigo, e eu me sentia deslocado dos outros. Sentia-me como um pingo de sorvete derretendo na calçada. Meu pai "havia me ajudado" a compreender as mudanças físicas durante "A conversa", mas havia algumas outras coisinhas acontecendo também. Eram coisas internas. Desejos dentro de mim que eu nunca havia sentido antes.

A palavra maluca, puberdade. ecoava por todos os lados e parecia gritar para mim:
 Ei. você. seu otário. João Ninguém em puberdade. apenas se olhe no espelho! Você acha que alguém poderia amá-lo do jeito que você é?
Até então, eu nunca havia questionado se os outros me acha­vam atraente ou não. ou se eu era uma pessoa que pudesse desper­tar o amor de uma garota. Mas. subitamente, eu só conseguia pen­sar naquilo: Puberdade! Puberdade! Puberdade! Você está na puberdade! Aquela palavra inundava a minha mente. Imagens de Cindy McFarlane despontavam em minha mente, enquanto eu sus­surrava:  

"Desiste, seu desengonçado de boca metálica!"

Dentro de mim estavam acontecendo coisas que "A conver­sa" daquela noite no estacionamento não me havia preparado. De repente, eu sentia o desejo de ser atraente. Durante os últimos doze anos. eu não me importava se o meu cabelo estava arrepiado, se a minha camiseta estava amarrotada ou se havia molho de pizza no meu queixo... Agora, surgindo repentinamente do nada. eu sentia que precisava ser atraente.

Talvez a Cindy até olhe para mim hoje! Eu advertia a mim mesmo ao acordar uma hora mais cedo do que o normal para me aprontar para ir à escola.
Comecei a ficar horas e horas escolhendo o traje certo, pas­sando esfoliante na cara para ver se me livrava daquelas espinhas obscenas e, é claro, cuidando do item número 1 do horário de minha agenda matutina: o penteado. Desenvolvi um estilo de pente­ado que era embelezado e ornamentado à perfeição. Eu precisava estar cem por cento. Se um fiozinho de cabelo estivesse fora do lugar, isso era suficiente para que eu largasse o café da manhã para colocá-lo no lugar.

Comecei a estudar revistas que tivessem homens do tipo "machão". Lembro-me de quando folheava uma revista e me deparei com o Arnold Schwarzenegger sem camisa. Pensei comigo mesmo: Uau! Então é assim que devo parecer?

Imediatamente fui para o banheiro e tirei a camiseta. Olhei para o espelho com um sorriso a La Clint Eastwood, curvei os braços e os flexionei como o Schwarzenegger na revista. "Puf!" Uma pelotinha de músculo apareceu em meu braço e "Puft!" Su­miu. Foi naquele momento que enxerguei pela primeira vez "O magrela".



Meu desejo de ser atraente levou-me, uma manhã, antes de ir para a escola, ao estojo de maquiagem de minha mãe. Minhas espinhas estavam se multiplicando em meu rosto como uma ninha­da de coelhos, e eu não conseguia descobrir o que fazer. Encontrei, entre os vários produtos, uma coisa chamada "base" e, em frente do espelho, tapei, cuidadosamente, cada um dos pontinhos de es­pinha.

Maquiagem: esta era uma outra coisa não abordada pelo meu pai naquele bate-papo que tivemos no carro amarelo cor de banana. Eu não tinha a mínima idéia de que existiam diferentes tipos de tonalidades de maquiagem e de que é necessário certificar-se de que o tom combine com a cor da pele. Quero dizer, como é que eu deveria saber tudo isso?

SAL.



 


Nenhum comentário: