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domingo, março 14, 2010

A pedra de Drummond e a Cruz de Cristo

                                                
                                                     No meio do caminho

“No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / tinha uma pedra / no meio do caminho tinha uma pedra / Nunca me esquecerei desse acontecimento / na vida de minhas retinas tão fatigadas / Nunca me esquecerei que no meio do caminho / tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio do caminho / no meio do caminho tinha uma pedra.




Aos 10 anos, quando me deparei pela primeira vez com a pedra de Drummond. Matutei eu, na minha ingenuidade ainda intacta:
Como alguém poderia, em sã consciência, escrever um poema sobre uma miserável pedra. O que alguém teria a dizer sobre uma pedra. Entre minha casa e a escola existem infinitas pedras e nem por isso eu fico perdendo tempo falando sobre elas.
Se eu pego esse Drummond...

Aos 16 anos, recém adaptado a puberdade e às surpresas que a vida lhe traz, convencido que Deus existia, mas não querendo arriscar ser diferente, me deparei pela segunda vez com a pedra de Drummond. Pensei eu na minha ingenuidade já adulterada:
Cara sacana esse Drummond...
Ele tá querendo me enrolar. Essa pedra deve significar alguma coisa...
Por que ele não diz logo o que quer? Que caminho é esse? Que pedra é essa que incomoda tanto a ponto de virar patrimônio histórico do reino da poesia?
Ele tá me escondendo algo...

Aos 22 anos, já fadigado por uma juventude transviada, resolvi arriscar uma coisa nova, abracei Jesus Cristo quando Ele me abraçou primeiro e, no meio do caminho me deparei pela terceira vez com a pedra de Drummond. Analisei eu, na tentativa de restaurar a minha ingenuidade perdida:
Todo caminho só existe quando passamos por ele. Podemos supor que este é o caminho traçado por aqueles que desejam dias melhores. Entretanto, há uma pedra, diz o eu-lírico.
A “vida de minhas retinas tão fatigadas” passa a idéia de varias pedras superadas ao longo do caminho. Os mesmos segmentos de verso se repetem mecanicamente quase no poema todo. A reiteração constante passa uma sensação claustrofóbica de um caminho do qual não se pode escapar, cujo efeito corrói a alma, ensimesmada e abatida diante da pedra irremovível. No meio do caminho o que se encontra de verdade é o sentimento tortuoso da fraqueza e da falta de jeito, a sensação de não poder fazer nada frente ao sem-fim da dificuldade.
O que Drummond não disse foi que se no meio do caminho tinha uma pedra, se tinha uma pedra no meio do caminho... No final do caminho tinha uma cruz/ tinha uma cruz no final do caminho/tinha uma cruz/ no final do caminho tinha uma cruz/ Nunca me esquecerei desse acontecimento/ na vida de minhas retinas tão fatigadas/ nunca me esquecerei que no final do caminho / tinha uma cruz/ tinha uma cruz no final do caminho/ no final do caminho tinha uma cruz.

Te peguei Carlinhos

Um comentário:

leo araujo disse...

Tem mesmo uma cruz no final. por mais que não cheguei no final, eu sei que porque vieram de lá a me contar.
tem mesmo uma cruz no final.